
Sakura Card Captor: o primeiro anime da diversidade
“Volte à forma humilde que merece!”. Quem assistiu à TV Globinho no início dos anos 2000 vai se lembrar perfeitamente dessa frase. A carismática e fofinha Sakura Kinomoto, que de repente se vê convocada por um deus na forma de ursinho alado de pelúcia, com o objetivo de capturar monstros que deixaram suas prisões em forma de cartas, espalhou-se por todos os pré-adolescentes da época e rompeu as diferenças entre meninos e meninas.
Para meninas, mas nem tanto
Inicialmente um shojo, ou seja, na cultura e língua japonesas, animes destinados a meninas jovens, no Brasil fez sucesso que rompeu barreiras de gêneros e fez meninos e meninas torcerem por Sakura e por seu amor pelo colega de sala chinês, Syaoran. Tudo em episódios escolares, com outras personagens carismáticas fazendo o suporte para os dois protagonistas, como o irmão de Sakura e seu amigo, Yukito, por quem ela é platonicamente apaixonada, e a própria amiga de Sakura, Tomoyo, também perdida de amores platônicos pela própria heroína do desenho. E Mei Lin, outra chinesa, que se crê namorada de Syaoran, mas vai aos poucos perdendo o bonde pra heroína. Essa última, coitadinha, sempre está nas cenas de ação para atrapalhar, no tipo “lugar errado, hora errada”.
Diversidade de gênero?
Tomoyo ama Sakura? Difícil dizer, até porque são crianças, mas é uma linda e delicada forma de admiração (acima). Entre o irmão de Sakura e Yukito (abaixo) fica mais claro.
Embora o anime deixe nas entrelinhas relações homoafetivas, tanto no que seria um namoro do irmão de Sakura com Yukito, quanto na contemplação não correspondida de Tomoyo para com Sakura, ele não cai nos gêneros de romance yuri – homoafetividade lésbica – ou yaoi – homoafetividade gay. Vale lembrar que, no Japão, a produção cultural ainda segrega materiais voltados para público LBGTQIAPN+, restringindo o amor não heteronormativo a nichos fechados, para que se evite retratá-lo ao público amplo. E isso sem muita chance de mudar no curto prazo. Mesmo assim, foi um anime pioneiro em, não sendo yuri ou yaoi, insinuar afetos fora da heteronormatividade, o que foi bem interessante.
Teve de tudo, por isso um clássico
Mais que isso, porém, foi um anime de ação. As cenas de perseguição aos monstros que estão soltos pela pequena cidade de Sakura, geralmente ao redor de sua escola, são muito boas e algumas tiram o fôlego. E tudo com jargões característicos, que nos fazem esperar a hora em que serão ditos como marcadores do momento de ação. Quando Sakura libera uma carta já em seu poder, para lutar contra a que está rebelada, ela diz: “Chave que guarda o poder das Trevas! Mostre seus verdadeiros poderes sobre nós e ofereça-os à valente Sakura que aceitou essa missão! Liberteeeeee-se!” E, ao encerrar a batalha e devolver o monstro à sua forma de carta, futuramente sob seu controle, Sakura diz a frase como começamos: “Volte à forma humilde que merece! Cartaaaaa Clooooow”.
Pura nostalgia, puro amor, pura ação. Mistura de tudo, pioneirismo em questão de gênero, unindo meninos e meninas, ensejando timidamente que várias formas de amor existem.