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Duck Tales e o imperialismo que nos diverte

Talvez o mais erudito entre os desenhos da Disney, Duck Tales foi lançado em 1987, como um seriado de inspiração em literatura clássica e vitoriana, protagonizado pelo Tio Patinhas, pelos seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luisinho e pelo Pato Donald. O sucesso nos anos 1990 foi estrondoso, e, aqui em terras brasileiras, o SBT o utilizou como uma de suas vacas leiteiras, ao lado de Chaves e Chiquititas.

Duck Tales incorporava um velho conceito de narrativas de aventura: a caça aos tesouros, que fazem parte do imaginário ocidental desde Robert Louis Stevenson com A Ilha do Tesouro, livro de 1883, e Henry Rider Haggard com As Minas do Rei Salomão, livro de 1885. Desde então, Hergé concebeu Tintim, George Lucas criou Indiana Jones e Mike Schmidt e Tony Gard criaram Lara Croft em Tomb Rider.

O destino manifesto

Assim como colocado em artigo de ontem sobre Dança Com Lobos, em que os Estados Unidos se declaram merecedores de toda a América do Norte e invadem territórios indígenas e mexicanos, aqui também pode-se evocar este princípio para entender o tipo de história que se conta.

Todas as obras de aventuras arqueológicas, tais como a maior parte das de Duck Tales e as demais citadas em paralelo, são produto do entendimento europeu, anteriormente, e, depois, norte-americano, de que seu papel civilizacional os faz merecedores das riquezas culturais do mundo. Afinal, eles não são os bárbaros que ameaçam seus próprios tesouros da destruição.

Se os irmãos Metralha estão errados ao tentarem roubar o Tio Patinhas, pode ele entrar num país distante e trazer um ídolo roubado a pretexto de conservá-lo na sua mansão, longe de seu próprio povo? Indiana Jones, Tintim e afins são exatamente isso. E aí, como lidamos?

Divertindo-nos

Evidentemente, o tempo pode mudar o tipo de abordagem que os Estados Unidos fazem das riquezas culturais do mundo. Entretanto, as boas histórias do Tio Patinhas, do capitão Boeing, do pato Donald e dos seus sobrinhos voando o mundo e lutando contra vários inimigos, no meio de uma selva ou castelo ou pirâmide, para retornar com um artefato raro e mágico, não têm culpa em si da estrutura que as envolve.

Histórias são dinâmicas, existem por si só, e se algo pode delimitar melhor o campo de atuação de Duck Tales para que contemple a soberania de outras culturas, que seja daqui e por diante. A série, ao contrário do que foi abordado ontem sobre Dança Com Lobos, está disponível em seu original de 1987 e remake de 2017 na Disney+. Visto que, para os americanos, imperialismo não é um problema passível de cancelamento.



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